Kurt Cobain: talento e rebeldia

No final de 1991, o Nirvana chegou ao primeiro lugar das paradas de sucesso norte-americano com seu segundo LP, NEVERMIND, que vendeu 8 milhões de cópias, desbancando Michael Jackson.

Mas Cobain, que sempre foi anti-mauricinho, com seu estilo grunge de bermudões, sem nenhum charme, camisas baratas e tênis ou cuturnos velhos, não soube transar bem com o sucesso e com os milhões de dólares que a banda ganhou. Para ele, estar ligado às grandes gravadoras, ganhando milhões de dólares, era se vender a um sistema que sempre odiou."Não conseguíamos compreender o que estava se passando e não conseguíamos lidar muito bem com tudo aquilo. Havíamos crescido admirando bandas punk e achando que todas aquelas bandas nas paradas de sucesso não passavam de um constrangimento. E, de repente, nós éramos uma dessas bandas. Então achamos que o melhor era escangalhar tudo aquilo. Bem que tentamos.", admitiu o roqueiro. Assim junto com o sucesso, vieram as drogas, principalmente a heroína. No auge da fama, se recusou a fazer uma turnê de shows que lotariam ginásios e renderiam ao Nirvana milhões de dólares.

Seu relacionamento com a imprensa foi um desastre. Ele sempre ragia violentamente às publicações que, sempre loucas por um escândalo, não poupavam sua vida pessoal. Foi assim quando a revista Vanity Fair publicou que Courtney não passava de uma piranha interessada e sanguessuga, sem talentos artísticos, odiada pelos colegas de sua banda, determinada a tirar tudo de seu marido famoso. "CAMBADA DE SATANISTAS CRISTÃOS DIREITISTAS DE ALTA MODA", diria Kurt se referindo aos jornalistas.

Os escândalos se sucederam para o delírio da imprensa, como na noite em que a polícia baixa na casa de Kurt, chamada por um vizinho, para acalmar o roqueiro que estaria espancando a mulher.

Mas o fato que causou maior frissonno público e na imprensa foi o romance de Cobain com a madame H e o fato de que ele, H e Courtney transassem juntos, com a finalidade de curar suas dores estomacais.

Os problemas pessoais acabaram refletindo no trabalho da banda. A gravação do novo álbum In Utero é recheada de boatos, como o de que a gravadora Geffen Records teria odiado o disco e exigido sua regravação total. Em meio aos desmentidos, o novo CD chegou às lojas e o Nirvana recusou uma turnê com o U2 e nada menos que seis milhões de dólares para estrelar o último festival Lolapalloza .

Começa então, em outubro, uma excursão para um público de apenas 5 mil pessoas por vez, para evitar o vexame de tocar em casas sem lotação completa.

Tudo isso parece ter sido demais para o garoto que, cheio de problemas, aos 27 anos resolve por um fim a tudo.

No dia 8 de abril , Kurt foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, num quarto sobre a garagem de sua casa, em Seatle. Ao lado, um bilhete para Courtney Love: "I love you, I love you, I love you".

Resta saber se Kurt estava sendo sincero quando, em uma entrevista, semanas antes de sua morte, dizia: "nunca fui tão feliz como agora", já pressentindo que seu sofrimento estava perto do fim; ou se, na verdade, o que sentia era aquilo que estava em uma das faixas de seu último CD- "Eu me odeio e quero morrer".